Champagne: Nem só de espumantes vive a região
- Raffael Figlarz
- 6 de jul.
- 4 min de leitura

Esta semana tive o prazer de ter uma breve conversa com o competentíssimo enólogo chileno Francisco Baettig, e entre uma taça e outra, me surgiu a curiosidade de saber,tendo em vista o perfil dos vinhos produzidos por ele e as características do terroir em que eles estão sendo produzidos, se não haveria uma vontade em começar um processo de vinificação de vinhos espumantes. Em resposta, ele comentou que no Chile não há a cultura do da produção e muito menos do consumo de vinho espumante mas que sim, o terroir da região aonde ele está produzindo permitiria a produção deste tipo de vinho.
Pois bem,mas por que inicio falando sobre isso num post sobre Champagne? No momento que eu conversava com Baettig tinha um sr próximo a nós que começou a falar sobre terroir e em seguida entrou no assunto Champagne dando exemplo que nem toda região que produz vinhos espumantes tem "capacidade" de produzir vinhos tranquilo e vice e versa e que os vinhos na região francesa não eram elaborados porque as condções de terroir simplesmente não permitiriam a elaboração de vinhos tranquilose que os mesmos seria impossiveis de beber devido a alta acidez. Bom, recebi a informação com certeza estranheza mas como não sou nenhum expert resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto e trazer mais informações porque acho que conhecimento nunca é de mais né?
Na região da Champagne (França), há razões históricas, legais e econômicas que explicam por que quase todo o vinho produzido é espumante e quase não há vinhos tranquilos (ainda).
1. Regulação AOC extremamente restritiva
A denominação Champagne AOC define terras, uvas (Chardonnay, Pinot Noir, Pinot Meunier) e métodos de produção exclusivos — o famoso méthode champenoise, que envolve segunda fermentação dentro da garrafa.
Desde 1927, ficou ilegal usar terras da região de Champagne para produzir vinhos tranquilos sob o nome “Champagne” — e desde então, regras muito rígidas proíbem destilação de vinhos tranquilos lá .
2. Premissas históricas
No século XIX, a bolha apenas começou a ser valorizada; anteriormente, vinhos tranquilos eram comuns e apreciados por reis franceses sob designações como Coteaux Champenois, registradas oficialmente em 1974
A partir de então, a região assumiu identidade global como sinônimo de espumante, desencorajando fortemente a produção de vinhos tranquilos.
3. Incentivos econômicos poderosos
O espumante de Champagne garante uma margem de lucro muito maior do que vinhos tranquilos.
As vinhas são, de fato, algumas das mais valiosas do mundo — cultivar uvas para espumante compensa mais financeiramente .
4. Produção reduzida, mas existente
Ainda existem pequenas produções de vinhos tranquilos sob a marca Coteaux Champenois (branco, tinto e raramente rosé), além de outros produtos menores como Rosé des Riceys, Ratafia (vinho licoroso) e Marc de Champagne, feitos a partir de subprodutos.
Mas esses representam uma fração mínima da produção porque a capacidade produtiva é canalizada prioritariamente para o espumante.
5. Terroir e mercado moldam a escolha
O clima, solo calcário e tradição centenária da região são ideais para o estilo Champagne, que demanda envelhecimento em contato com leveduras (lees) e método de segunda fermentação .
Culturalmente, há mercado mundial consolidado para Champagne espumante; vinhos tranquilos da região não têm a mesma demanda.
Embora seja legalmente permitido produzir vinhos tranquilos em Champagne — e ainda haja exemplares de Coteaux Champenois ou Ratafia — as leis restritivas, o altíssimo valor comercial do espumante, e a estrutura agrícola fortemente orientada para o método Champenoise fazem disso uma escolha quase óbvia para os viticultores.

Grandes casas e grower-producers que fazem Coteaux Champenois
1. Casas tradicionais
Veuve Clicquot – Clos Colin (Bouzy Rouge 2012)Produzido em pequenas quantidades (menos de 2.000 garrafas), usa parcela histórica em Bouzy
Charles Heidsieck Lançou quatro monovintage brancos, de terroirs como Oger, Vertus e Villers-Marmery, começando em 2017
Louis Roederer – Hommage à Camille (Pinot Noir & Chardonnay 2018) Projeto focado em vinhos tranquilos, safras limitadas, primeiros lançamentos em 2021
Bollinger – La Côte aux Enfants (Aÿ)Menos de 4.000 garrafas por safra, estilo Borgonha

2. Growers e pequenos produtores (Récoltant-Manipulants)
Esses produtores menores são os principais impulsores do ressurgimento dos vinhos tranquilos em Champagne;
Domaine Les Monts Fournois – Juliette Alpis
Champagne Chavost – Fabian Daviaux
Marx-Coutelas – Bryan Marx
Outros produtores notáveis:
Etienne Calsac (Côte de Sézanne): blend de Petit Meslier, Pinot Blanc e Arbane
Stéphane Régnault: Blanc Coteaux Champenois com 15 meses em carvalho
Domaine Alexandre Bonnet: Coteaux Champenois Blanc 2021 + Rosé des Riceys
Egly‑Ouriet, Paul Bara, Pierre Paillard, Georges Rémy, Doyard, Domaine La Borderie, Marguet, etc. listados entre principais ícones
Extras notáveis e rótulos surpreendentes
Lelarge‑Pugeot: casa conhecida por seus espumantes, também produz Coteaux Blanc/Méunier surpreendentes — com compridas macerações e menor intervenção
Fabien Bergeronneau – Coteaux Champenois ‘No 17’ (2017)Blend 50/50 de Pinot Noir e Meunier, apenas 600 garrafas, envelhecido 2 anos em madeira
Françoise Bedel – Vin Cent Bulle 2014 85 % Meunier + 15 % Chardonnay, 12 meses em carvalho, apenas 804 garrafas
Dehours – Les Vinges de Mizy (blanc) & La Croix Joly (rouge)Produções pequenas (1.100–560 garrafas), aromas cítricos e frutados complexos
Faixa de preços estimada
Os vinhos tranquilos da região são raros e de produção limitada, com preços geralmente entre €50 e €160 por garrafa nas safras de entrada e mais para lotes de casa grande (e.g., Heidsieck, Roederer). Por exemplo:
Coteaux de Bollinger e Geoffroy por ~€120–140 .
Clos Colin, Diamant, Camille: €100–300
Growers: Entre €50 e €80 normalmente
Esses vinhos oferecem uma visão fascinante do terroir de Champagne sem bolhas, combinando leveza cítrica, vivacidade ácida e estilos que vão do fresco ao mais texturizado em madeira.
Ao fim dessa pesquisa cheguei a algumas conclusões:
1-) Ninguém sabe tudo sobre tudo.
2-) O mundo do vinho carece de humildade.
3-) Não receba informações como verdades ou mentiras absolutas, vá atrás!
4-) Quanto mais a gente pesquisa e vai atrás mais a gente realmente aprende e surpreende
Saúde e até a próxima
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