Bairrada e Luís Pato: Um caso de amor com o vinho português
- Raffael Figlarz
- 1 de ago.
- 3 min de leitura

A convite da Mistral vinhos, tive o prazer e a honra de conhecer Luis Pato e seus deliciosos vinhos da Bairrada. Se você ainda não ouviu falar da Bairrada ou de Luís Pato, tá na hora de atualizar seu repertório enófilo. Estamos falando de uma das regiões mais autênticas de Portugal — e de um dos nomes mais ousados e respeitados do vinho lusitano.
A Bairrada, pra começo de conversa, não é daquelas regiões “modinhas” que fazem vinho só pra turista tirar foto bonita. É terra de tradição, com vinhedos antigos, clima atlântico e uma uva que mete respeito: a Baga. Sim, Baga! Ela é intensa, tânica, cheia de personalidade e, por muitos anos, foi injustamente mal compreendida. Mas aí apareceu o Luís Pato e mudou o jogo.
Terroir

A Bairrada fica no centro-norte de Portugal, ali entre o mar e as serras. O clima é fresquinho e úmido, com neblina de manhã e brisa oceânica no fim da tarde. E o solo? Argiloso e calcário — combinação que, pros vinhos, é ouro puro.
A estrela da casa é a tal da Baga, uma uva tinta de casca grossa que dá vinhos nervosos, com acidez vibrante e taninos afiados. Difícil de domar, mas quando bem trabalhada... Ah, aí o vinho vira poesia engarrafada. E é aí que entra o Luís Pato.

Luís Pato
Luís Pato é mais do que um enólogo — ele é um personagem. Um cara que sempre andou fora da caixinha e que não teve medo de bater de frente com tradições engessadas. Começou a fazer vinho nos anos 80, numa época em que a Baga era renegada até pelos próprios produtores da região. Mas ele acreditava na uva. E mais: acreditava no potencial da Bairrada pra produzir vinhos de classe mundial.
Foi o primeiro da região a vinificar a Baga separando parcelas específicas, respeitando o terroir e reduzindo o tempo em barrica. Também foi pioneiro ao experimentar fermentações naturais, uso moderado de madeira e até espumantes com método tradicional.
Ah, e detalhe: por brigar com as regras do órgão regulador da Bairrada, ele chegou a tirar o nome da região dos rótulos. Em vez de "DOC Bairrada", você lia "Vinho Regional Beiras". Rebelde? Sim. Mas com propósito.

O estilo Pato de fazer vinho
O Luís Pato tem uma filosofia clara: vinho tem que expressar o lugar de onde vem. E isso vale pra tudo — da Baga (que ele adora) às uvas brancas como Bical, Cercial e Maria Gomes, que ele transforma em brancos elegantes e vibrantes.
Os vinhos dele não são feitos pra agradar todo mundo. São sérios, com acidez firme, estrutura e longevidade. Tem que ter paciência. É o tipo de vinho que você guarda, espera abrir no momento certo... e quando abre, é uma viagem.
Destaques? O Vinha Barrosa, 100% Baga de uma vinha plantada em 1945, é pura complexidade. O Vinha Formal, branco feito com Bical e Cercial, mostra que a Bairrada também manda muito bem nos brancos. E os espumantes? Secos, elegantes, fresquíssimos — a cara da Bairrada.
Vale lembrar que a história não para no Luís. A filha dele, Filipa Pato, também seguiu os passos do pai, mas com sua própria pegada. Hoje ela comanda um projeto incrível com o marido, o sommelier belga William Wouters, apostando na agricultura biodinâmica e vinhos “sem maquiagem”. É o sangue da Bairrada correndo solto.
Falar da Bairrada sem falar do Luís Pato é impossível. Ele não só colocou a região no mapa como fez a Baga ser respeitada no mundo inteiro. Seus vinhos são cultuados por sommeliers, críticos e apaixonados por vinho que buscam autenticidade, frescor e profundidade.
Então, da próxima vez que você estiver procurando algo fora do óbvio, fuja do Cabernet, do Merlot, do Chardonnay... e se joga num Baga da Bairrada. De preferência, um do Luís Pato. Pode confiar: é daqueles vinhos que contam história na taça.
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