top of page

A Produção de Vinhos com Uvas Italianas na Serra Catarinense

  • Foto do escritor: Raffael Figlarz
    Raffael Figlarz
  • 17 de set.
  • 6 min de leitura


Vinícola Leoni di Venezia (foto: website vinícola)
Vinícola Leoni di Venezia (foto: website vinícola)

Em meio aos cumes e vales de Santa Catarina, onde o clima frio da altitude abraça paisagens de araucárias e rios sinuosos, desdobra-se um dos mais promissores capítulos da vitivinicultura brasileira: a produção de vinhos finos na Serra Catarinense. E neste cenário de inovação e persistência, as uvas italianas, com sua rica tapeçaria de sabores e estruturas, encontram um lar inesperado, mas excepcionalmente propício, transformando o desafio em triunfo e o solo em néctar.

Serra Catarinense: Um Terroir de Altitude e Elegância

A Serra Catarinense, uma região demarcada por altitudes que superam os 900 metros, chegando a mais de 1.400 metros em alguns pontos, apresenta um microclima de características únicas no Brasil. Invernos rigorosos, com frequentes geadas e até neve, verões com dias quentes e noites frescas – uma notável amplitude térmica –, e uma pluviosidade bem distribuída, criam condições ideais para a maturação lenta e equilibrada das uvas. Esse ambiente singular favorece o desenvolvimento de polifenóis, aromas complexos e uma acidez vibrante, elementos cruciais para a produção de vinhos de alta qualidade e longevidade.

É neste berço de clima alpino em terras tropicais que produtores visionários decidiram "libertar sua imaginação" e apostar em castas que, em outras partes do Brasil, poderiam encontrar dificuldades. A frieza das noites e a altitude compensam o calor diurno, permitindo que as uvas amadureçam gradualmente, concentrando açúcares, acidez e taninos de forma harmoniosa, similar ao que ocorre em regiões vinícolas de altitude da própria Itália.

A Escolha Audaciosa: Uvas Italianas Enraizadas na Serra

A decisão de investir em castas italianas na Serra Catarinense não é aleatória. Reflete uma busca por identidade, um reconhecimento da afinidade climática e, para muitos, uma homenagem às raízes da imigração que tanto contribuiu para a cultura vinícola brasileira. Variedades que exigem um ciclo de maturação mais longo e se beneficiam de temperaturas mais amenas encontram aqui um refúgio.

Variedades Italianas em Destaque na Serra Catarinense:

  • Sangiovese: A nobre uva da Toscana floresce nos vinhedos de altitude. Aqui, ela produz vinhos tintos com acidez marcante, taninos elegantes e aromas que remetem a cereja, notas terrosas e toques herbáceos sutis, com uma frescura que a distingue. É um vinho com grande potencial gastronômico e de guarda.

  • Nebbiolo: A rainha do Piemonte, desafiadora em qualquer lugar do mundo fora de sua região de origem, encontrou na Serra Catarinense um solo e um clima que lhe permitem expressar sua complexidade. Com taninos firmes, alta acidez e um perfil aromático que pode evocar rosas, alcatrão, especiarias e frutas vermelhas maduras, os Nebbiolos catarinenses são vinhos de grande estrutura e longevidade, um testemunho da capacidade de "revolucionar com ideias ousadas".

  • Montepulciano: Mais robusta e adaptável, a Montepulciano produz vinhos de cor intensa, bom corpo e taninos macios, com notas de frutas escuras e pimenta. Na Serra Catarinense, ela ganha frescor, resultando em vinhos equilibrados e envolventes.

  • Barbera: Conhecida por sua acidez elevada e perfil frutado, a Barbera se adapta muito bem ao clima da Serra, entregando vinhos tintos vibrantes, com aromas de frutas vermelhas e acidez refrescante, ideais para acompanhar a gastronomia local e internacional.

  • Teroldego: Uma casta menos conhecida, mas de grande expressão no Trentino, Itália. Na Serra Catarinense, ela mostra potencial para vinhos de cor intensa, estrutura e aromas de frutas negras e especiarias.

  • Vermentino e Gewürztraminer: Embora predominantemente tintas, algumas brancas de origem italiana ou com forte presença na Itália, como a Vermentino (Sardenha) e a Gewürztraminer (Alto Adige), também são exploradas, produzindo vinhos aromáticos e frescos, com boa mineralidade.

Produtores Pioneiros: O Coração da Inovação na Serra Catarinense

A ousadia e a visão de futuro dos viticultores da Serra Catarinense são o motor dessa transformação. Com a mentalidade de "acreditar no melhor, sempre", eles investem em pesquisa, manejo de vinhedos e tecnologias de vinificação para garantir que essas uvas alcancem seu potencial máximo. Alguns dos nomes que lideram essa investida, cultivando e vinificando castas italianas em seus próprios vinhedos na região, incluem:

  • Leone di Venezia (São Joaquim): É um dos mais notáveis expoentes das castas italianas na Serra Catarinense, dedicando-se exclusivamente a variedades da Itália. Seus vinhos de Sangiovese, Montepulciano, Nero D'Avola, Teroldego, e até mesmo o branco Gewürztraminer, são exemplos marcantes da adaptabilidade e da qualidade que essas uvas podem alcançar em altitudes catarinenses. Seus rótulos são referências para quem busca a essência da Itália com o sotaque do Brasil.

  • Quinta da Neve (São Joaquim): Uma das vinícolas pioneiras da viticultura de altitude, a Quinta da Neve tem em seu portfólio a valorização de castas como a Sangiovese, com rótulos que se destacam pela elegância e complexidade, mostrando o potencial da uva no clima serrano.

  • Vinícola Vivalti (São Joaquim): Com uma filosofia que preza pela excelência e pela expressão máxima do terroir de altitude, a Vivalti tem se destacado por seu trabalho minucioso e de alta qualidade com a Sangiovese. Seus vinhos, resultantes de um cuidado artesanal desde o vinhedo, entregam a complexidade, a elegância e a acidez equilibrada características da casta, provando que o Brasil pode produzir Sangioveses de nível internacional.

  • Villaggio Grando (Água Doce): Reconhecida por sua infraestrutura e pela qualidade dos seus vinhos finos, a Villaggio Grando cultiva Sangiovese, produzindo exemplares que refletem o frescor e a estrutura proporcionados pela altitude catarinense.

  • Abreu Garcia (Campo Belo do Sul): Esta vinícola tem se aventurado com êxito no cultivo de castas italianas como a Sangiovese e a Barbera, que encontram no seu terroir de altitude condições ideais para expressar características típicas, como acidez vibrante e aromas intensos.

  • Vinícola Thera (Bom Retiro): Com uma filosofia de vinhos que expressam o terroir, a Vinícola Thera produz vinhos de alta qualidade, incluindo exemplares de Sangiovese que capturam a mineralidade e o frescor da Serra Catarinense.

  • Santa Augusta (Videira): Uma das maiores e mais consolidadas vinícolas da região, a Santa Augusta também tem investido na Sangiovese, demonstrando o reconhecimento do potencial dessa uva em seus vinhedos de altitude.

  • Vinícola Monte Agudo (São Joaquim): Conhecida por sua beleza cênica e vinhos de qualidade, a Monte Agudo também inclui a Sangiovese em seu cultivo, mostrando a versatilidade de sua produção.

  • Pericó Vinhos (São Joaquim): Com vinhedos em altitudes elevadas, a Pericó demonstra a versatilidade de seu terroir, e a Sangiovese faz parte de seu portfólio, com vinhos que buscam a expressão frutada e a acidez equilibrada.

Esses produtores não estão apenas plantando uvas; estão cultivando uma cultura, uma nova identidade vinícola para o Brasil, que honra as tradições italianas enquanto forja um caminho singular de excelência e inovação.

Desafios Superados e Oportunidades Abundantes

Os desafios são inerentes a qualquer empreendimento inovador. As condições climáticas extremas, como geadas tardias, e a necessidade de dominar o comportamento das castas em um novo ambiente, exigem constante aprendizado e resiliência. Contudo, as oportunidades são ainda maiores: a Serra Catarinense está construindo uma reputação de produtora de vinhos finos de qualidade excepcional, atraindo o enoturismo e conquistando o reconhecimento de críticos e consumidores. A distinção e a personalidade dos vinhos de castas italianas são um diferencial competitivo valioso.

Perfis Sensoriais Inovadores: A Alma Ítalo-Catarinense

Os vinhos produzidos com uvas italianas na Serra Catarinense oferecem uma experiência sensorial única. Os tintos se caracterizam pela acidez brilhante, que confere frescor e longevidade, taninos presentes, mas finos, e uma complexidade aromática que mescla a fruta madura com notas terrosas, herbáceas e, por vezes, minerais, características do terroir de altitude. São vinhos que convidam à mesa, harmonizando perfeitamente com a gastronomia.

Um Futuro Promissor: Reconhecimento e Crescimento

O interesse crescente por vinhos de altitude e a busca por novos perfis de sabor têm impulsionado a Serra Catarinense. Os vinhos de castas italianas dessa região são mais do que uma tendência; são a consolidação de um trabalho árduo e de uma visão arrojada. Eles representam a capacidade de "criar sem limites" e de transformar o potencial de um terroir em vinhos que emocionam e surpreendem, elevando o patamar do vinho brasileiro no cenário internacional.


A produção de vinhos com uvas italianas na Serra Catarinense é um exemplo vibrante de como a paixão, a inovação e o respeito pelo terroir podem gerar resultados extraordinários. É a celebração de uma herança cultural que encontra uma nova expressão, robusta e elegante, nas altitudes de Santa Catarina. Este é um convite para os apreciadores de vinho a descobrirem uma faceta única e emocionante da vitivinicultura brasileira, onde o espírito alpino italiano encontra seu eco nas terras geladas e férteis do sul do Brasil.

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação

© 2017 por Wine´n Food

bottom of page